Crescer Saudável com Ecrãs

    1. Crescer Saudável com Ecrãs

    1. Os ecrãs fazem parte da nossa vida e da vida das nossas crianças e adolescentes. A evidência científica tem mostrado que a substituição das brincadeiras tradicionais por ecrãs, que tem acontecido particularmente desde 2010, levou a uma reconfiguração da infância interferindo negativamente no desenvolvimento neurológico, psicológico e social destas crianças e adolescentes.

 

        1. É difícil resistir-lhes, em parte pela sua portabilidade (telemóveis, tablets, consolas, …), captam facilmente a atenção/interesse da criança dada a facilidade de interação com imagens, movimentos, cores e sons. Estes dispositivos tornaram-se para os pais uma forma simples e facilmente acessível de distrair e entreter as crianças, funcionando muitas vezes como “babysitter”.

     

      1. Os primeiros anos de vida são fundamentais para que haja a maturação do sistema nervoso do bebé e da criança de forma a que este desempenhe as funções características da sua espécie, sendo para tal essencial a interação com o meio. Assim, está comprovado que a utilização precoce destes dispositivos condiciona diversos problemas: aumento das atividades sedentárias, com limitação do desenvolvimento motor; dificuldade em manter a atenção, em gerir adversidades e momentos de tédio, com aumento do risco de comportamentos de hiperatividade, défice de atenção e comportamentos de oposição e desafio; diminuição do tempo de interação com adultos e outras crianças, com o consequente aumento do risco de comportamentos sociais evitantes e atraso no desenvolvimento da linguagem; problemas oculares (olho seco, visão desfocada, miopia e cefaleias); problemas de sono; aumento do risco de perturbações do comportamento alimentar, quadros depressivos e ansiosos.Tendo em conta o impacto negativo que a exposição precoce e/ou excessiva a ecrãs pode ter na saúde de crianças e adolescentes várias sociedades científicas têm emitido orientações, das quais saliento as da Sociedade Portuguesa de Neuropediatria (que pode consultar em mais detalhe no site: Recomendações SPNP ecrãs e tecnologia digital – SPNP).

        Em resumo defendem que a exposição a ecrãs seja evitada até aos 3 anos, de referir que há sociedades, nomeadamente a Associação Espanhola de Pediatria que alarga esta idade até aos 6 anos. Quando a exposição é iniciada, devem ser adequados os dispositivos, limitado o tempo de exposição e o conteúdo por adultos.

        Quando o seu uso é permitido, devem existir sempre momentos sem ecrãs, nomeadamente durante as refeições, em que se deve privilegiar a interação familiar, antes de ir dormir e no período de estudo. Não devem também ser utilizados como forma de ultrapassar momentos de aborrecimento ou para controlar birras. Nos adolescentes permitir a utilização de ecrãs dentro de hábitos de vida saudáveis (conciliando com outras atividades de lazer divertidas, particularmente ao ar livre e com outros adolescentes) e com vigilância paterna (informação, riscos, vantagens ∕ desvantagens, expectativas, limites) que estimule sempre regras de boa educação/conduta. As redes sociais só devem ser utilizadas acima dos 16 anos.

        As novas tecnologias têm também o seu papel e vantagens, se bem aproveitadas, designadamente aplicações e jogos que estimulam o raciocínio, que são pedagógicos e uma fonte de diversão e prazer. Podem também ter um papel importante para manter contacto com familiares à distância e nas crianças e adolescentes com doenças degenerativas ou do neurodesenvolvimento. Sendo sempre importante salvaguardar que o seu uso seja feito com conta e medida e nas idades adequadas.

        E como em muitas outras situações é importante que os pais sejam bons exemplos em relação ao uso de tecnologia, cuja utilização deve ser sempre conciliada com outras atividades, nomeadamente atividade física diária e interação social presencial.

        Se estiver a ter dificuldade em implementar estas boas práticas ou se notar que o seu filho tem uma utilização desadequada de tecnologias, havendo já alterações de comportamento, prejuízo do desempenho escolar, alterações do sono, etc…procure ajuda, nomeadamente junto do pediatra que o segue habitualmente.

        Comece hoje: desligue os ecrãs durante o jantar e aproveite para conversar com os seus filhos! Pequenos gestos constroem grandes mudanças.

 

Dra. Joaquina Antunes

Pediatra da CSSMH