
Desenvolvimento da linguagem na criança
O desenvolvimento da linguagem na criança num mundo tecnológico
O desenvolvimento da linguagem é um processo complexo e cativante em que a criança, através da interação com os outros, apropria-se, natural e intuitivamente, da sua língua materna. Assim sendo, através de trocas verbais com a criança, e na sua presença, ativa-se a sua capacidade inata para a linguagem, o que permite que ela vá construindo o seu próprio conhecimento sobre a língua materna. Claro está que, quanto mais estimulante for o ambiente linguístico e quanto mais ricas forem as vivências, maiores as possibilidades de um bom desenvolvimento cognitivo, linguístico e emocional.
É inegável a importância da brincadeira no desenvolvimento da criança, particularmente no desenvolvimento da linguagem. A arte de brincar implica deixar a criança pensar, comunicar, cooperar, imaginar, resolver problemas e movimentar-se. Para além disto, permite estreitar laços entre pais e filhos e entre os pares. Através da manipulação de brinquedos, no jogo do “faz-de- conta”, a criança estimula a sua imaginação e criatividade, aumenta o seu vocabulário, compreende e expressa ideias, pensamentos e sentimentos, experimenta ser personagens reais ou imaginárias, o que contribui para o seu ajuste ao mundo que a rodeia.
Na sociedade atual, assistimos a uma mudança no paradigma do brincar, com a entrada das novas tecnologias. A televisão, os computadores, os tablets e os smartphones passaram a ser objetos de uso quotidiano e recorrente, ao alcance das crianças, desde idades muito precoces, e, em muitos casos, os seus preferidos na hora da brincadeira. Estudos recentes indicam que uma criança portuguesa brinca, em média, 2 a 3 horas por dia, e, na maior parte das vezes, com recurso ao tablet ou smartphones. A Organização Mundial de Saúde (OMS) determinou as seguintes diretrizes para o contacto entre tecnologias e as crianças: 1 hora, ou menos, para crianças entre os 2 aos 4 anos e o desaconselhamento do uso para crianças com menos de 1 ano de idade.
Atualmente, é inegável que as crianças são nativas digitais e que o adulto não pode impedir o seu uso, mas sim deverá potencializá-lo, de forma controlada, como mais uma ferramenta de estimulação ao desenvolvimento da criança.
Se pensarmos o que nos acontece quando estamos a utilizar dispositivos eletrónicos, verificamos que estamos de cabeça baixa, a olhar para o ecrã e tendemos a não ter necessidade de olhar para quem está ao seu lado, a falar e a conversar.
Como terapeuta da fala, importa-me, então, partilhar algumas estratégias que possam ser utilizadas para criar experiências e oportunidades variadas, usando dispositivos eletrónicos, de forma a desenvolver a comunicação e linguagem nos vossos filhos:
- As crianças podem ter contacto com dispositivos eletrónicos, seguindo as diretrizes temporais da OMS, com o adulto a assegurar-se que o conteúdo dos programas e jogos são apropriados e adequados à idade da criança.
- Criar “zonas livres de ecrãs“ em casa;
- Excluir dispositivos eletrónicos à hora da refeição, de forma a potencializar a conversa entre todos;
- Falar com a criança sobre o programa/jogo que realizou;
- Ser ativo ao longo do programa/jogo, apontando e nomeando as imagens e situações que estão a ser observadas;
- Relacionar a atividade do programa/jogo com situações reais, por exemplo, fazer um puzzle digital e a seguir fazer um puzzle concreto;
- Pedir o reconto da história, no final do episódio de desenhos animados.
Assim, pede-se a todos os pais uma cada vez maior consciencialização sobre a forma como potencializa a interação dos seus filhos com as novas tecnologias, no sentido de promover o seu desenvolvimento de forma harmoniosa, nomeadamente a nível linguístico. Acima de tudo, recordar-se sempre que um tablet ou um smartphone não substitui o brincar com brinquedos!

Drª. Ana Francisca Ferreira
Profissional de Saúde, Terapeuta da Fala na CSSMH
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