Dia Europeu do Antibiótico

Comemora-se, de 14 a 18 de novembro, a Semana Mundial e, a 18 de novembro, o Dia Europeu do Antibiótico.

O objetivo desta iniciativa é sensibilizar profissionais de saúde e população em geral para a utilização correta dos antibióticos, contribuindo para a diminuição da resistência das bactérias aos antibióticos.

Com a descoberta da penicilina por Alexander Fleming em 1928 (pese embora o seu uso generalizado ter-se dado mais de uma década mais tarde, durante a 2.ª guerra mundial), deu-se início a uma das terapêuticas mais importantes da Medicina. Inclusive, a antibioterapia foi de tal maneira importante que foi – tal como a vacinação – uma das descobertas que mais prolongou a vida do ser humano.

Efetivamente, até meados do sec XX, as doenças infeciosas foram a causa principal de mortalidade no ser humano. Com o advento da antibioterapia passaram a um papel secundário, embora não desprezível.

Contudo, esta história não teve um final feliz… nem se afigura para breve que o venha a ter…

Na guerra entre seres humanos e bactérias, os antibióticos foram uma arma poderosa, já existente na natureza, que foi otimizada e usada com grande sucesso inicial. Mas, como em qualquer guerra, o inimigo adapta-se, e as bactérias não são diferentes. Através de todo um conjunto de estratégias estes microorganismos conseguiram adquirir mecanismos de resistência à ação dos fármacos antimicrobianos, colocando novos desafios no tratamento das infeções e criando novos problemas de saúde, com infeções com opções de tratamento mais limitadas… ou mesmo inexistentes!

Então, como chegámos a este ponto? Como deixámos que as bactérias adquirissem resistências ao ponto de haver estirpes com capacidade de resistir a praticamente todo o arsenal terapêutico existente?

A resposta a esta questão é muito curta: Uso desadequado dos antibióticos. E a responsabilidade é transversal a toda a sociedade: desde o uso descontrolado e desregulado na agricultura e pecuária, passando pela prescrição desadequada e autoconsumo sem indicação terapêutica, terminando numa série de opções de ordem político-económica que limitou – e limita – o desenvolvimento de novos agentes terapêuticos.

Seria inevitável atingirmos este ponto na guerra com as bactérias?

Sim, em teoria seria previsível haver o desenvolvimento de resistências a qualquer altura. A grande questão foi a forma como o problema se instalou… A velocidade e o ritmo com que o problema de resistência aos antibióticos se instalou conseguiu superar a capacidade do ser humano se adaptar, procurar e desenvolver novos mecanismos de resposta.

Chegados aqui, e tendo em conta a dimensão do problema, quais as respostas que podem ser executadas para mitigar ou inverter o mesmo?

Do ponto de vista cientifico-institucional, a Medicina tem tomado medidas para que a prescrição e uso dos antibióticos seja mais racional e menos empírico. Tal é executado otimizando o uso adequado do fármaco certo para a indicação específica, pelo tempo e na dose necessários, criando normas de orientação clínica, e sistemas de supervisão e auditoria terapêutica que permitam limitar o uso desadequado da terapêutica.

Do ponto de vista da sociedade civil, muito há também a fazer para contribuir para o uso correto dos antibióticos. Desde logo, há que perceber que um antibiótico seve para tratar infeções bacterianas por natureza graves. Uma infeção ligeira, sobretudo se tiver causa virusal, não deverá ser tratada com antibióticos. Aliás, se a denominação terapêutica técnico-científica “quimioterapia antimicrobiana” fosse difundida, talvez houvesse maior sensibilidade para a importância que este tipo de terapêutica tem. A toma do medicamento na dose certa e no tempo prescrito são também pontos essenciais para um tratamento eficaz da infeção subjacente, mitigando o risco de desenvolvimento de resistências.

A exposição ambiental constitui também um problema emergente. Com a banalização do uso de determinados agentes antimicrobianos na pecuária e o uso / eliminação desadequados por humanos, acabam por chegar doses significativas de antibióticos e seus metabolitos à água e outros produtos de consumo humano – doses insuficientes para desencadear efeitos secundários significativos, mas suficientes para haver exposição a bactérias que acabarão por se adaptar e desenvolver resistências.

Assim sendo, a guerra atual está num ponto que nos é desfavorável – aliás, sempre o foi a priori. No entanto existe todo um conjunto de estratégias que ainda poderão ser executadas e que permitem otimizar as armas terapêuticas que ainda temos disponíveis. Os antibióticos salvaram e continuam a salvar vidas, mas apenas deverão ser usados quando há vida a salvar.