Ouvir e Perceber

    1. Ouvir e Perceber

    1. Para além de ouvir precisamos de perceber e só assim podemos comunicar.

 

    1. A capacidade de comunicar de forma eficaz usando a fala assenta em várias etapas que vão desde perceber com precisão o que nos dizem a conseguir comunicar de forma inteligível os nossos pensamentos usando ferramentas apropriadas no contexto do discurso.

       

 

  1. Este processo pode ser dividido em três fases:

 

º A fase sensorial, quando o som é detectado e transformado num sinal elétrico.

º A fase perceptual, em que o sinal eléctrico é transformado num código neural. Este código neural é exclusivo do estímulo auditivo e perfeitamente distinguível de outros estímulos que também desencadeiam atividade neural. Contudo, em si esta atividade não tem significado semântico.

º É na última fase, fase representativa que é feita a interpretação semântica do estímulo sonoro, o que é que o som quer realmente dizer.

Resumindo, primeiro temos de detectar que se trata de uma comunicação oral para depois discriminarmos os diferentes sons dessa comunicação e finalmente atribuir-lhes significado.

Às últimas fases chamamos processamento auditivo central. Ele permite preservar, refinar, analisar, modificar, organizar e interpretar informação com origem no sistema auditivo periférico.

Para que tais tarefas sejam possíveis são necessárias várias ferramentas: a discriminação auditiva, o processamento temporal e o processamento biaural (localização e lateralização sonoras).

 

  1. Estas ferramentas podem falhar e aí temos um défice do processamento auditivo central (PAC). Isto pode ocorrer na criança ou no adulto e pode manifestar-se como uma:

 

º Dificuldade em perceber a linguagem falada em ambientes ruidosos ou com várias pessoas a falar ao mesmo tempo;

º Necessidade de pedir várias vezes para repetir;

º Respostas ao discurso inconsistentes ou inapropriadas;

º Dificuldade em compreender e seguir um discurso rápido;

º Dificuldade em seguir comandos ou direções complexas transmitidas oralmente;

º Dificuldade em aprender canções ou lenga-lengas;

º Dificuldade em aprender uma língua nova.

Estes são alguns exemplos cuja incidência varia consoante o grupo etário.

Estes exemplos não são exclusivos das alterações do PAC. E estas podem acompanhar outras patologias.

Quando avaliamos a audição destes doentes através de uma audiograma os resultados vão ser normais. Isto é, ouvem bem uma vez que o problema é o processamento do estímulo auditivo.

As causas são variadas. Na criança a mais frequente é a privação auditiva secundária a doenças do ouvido médio como otites médias agudas recorrentes ou otites serosas crónicas enquanto que no adulto são as doenças neurológicas e as alterações do funcionamento do processamento auditivo relacionadas com a idade.

O diagnóstico e tratamento são necessários quando a sintomatologia interfere com a qualidade de vida do doente.

O objetivo do tratamento é proporcionar ao doente a capacidade de comunicar de forma mais efetiva no contexto do seu dia a dia. O tratamento é interdisciplinar com a intervenção do otorrinolaringologista, do audiologista e da terapeuta da fala.

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Drª Carla Cardoso

Otorrinolaringologista CSSMH