A saúde mental perinatal diz respeito à saúde mental da mãe e da criança, desde a conceção (gravidez) até ao 1º ano de vida pós-natal. É um período que se caracteriza por alterações físicas, biológicas e psicossociais que se refletem diretamente na saúde mental da mulher. Há evidências de que a gravidez e o pós-parto não só, não protegem da psicopatologia materna, mas são momentos de grande vulnerabilidade para o aparecimento e/ou recorrência de distúrbios psicopatológicos.

Por exemplo, apesar de haver poucas diferenças entre a sintomatologia da depressão perinatal e da depressão em qualquer outro período da vida, estar grávida, ter um bebé e ser uma recém-mãe constituem acontecimentos de vida significativos que podem influenciar consideravelmente o modo como os diversos sintomas se manifestam. Por vezes, as mulheres sentem medo, vergonha ou culpa por contrariarem o mito da felicidade veiculado pelos media e partilhado pela família, alguns profissionais de saúde e pela sociedade em geral, tornando-se por isso necessária a informação, fonte importante para combater mitos e preconceitos, ainda muito enraizados acerca da doença mental (acrescidos durante este período), e que podem influenciar a consciência da necessidade de recorrer a ajuda médica especializada.

Os problemas de saúde mental nesta fase da vida da mulher têm uma elevada prevalência, podem ser graves e existe um elevado risco de recorrência e/ou cronificação. No entanto, são frequentemente subdiagnosticados.

Além do impacto sobre a mãe, a saúde mental materna influenciará o bem-estar fetal, os resultados obstétricos, o desenvolvimento de vínculo mãe-bebê e até mesmo o desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança.

Atenção e intervenções apropriadas e específicas, tendo em conta as necessidades das mães neste período, terão um impacto positivo a curto, médio e a longo prazo, enquanto a falta de ação pode envolver um grande custo individual, familiar e social.

Nasce desta consciência, a necessidade de equipas multidisciplinares, tal como a que constitui a Unidade de Pediatria da Casa de Saúde de São Mateus, com profissionais que possuam conhecimentos sobre avaliação e deteção de psicopatologia bem como das intervenções e recursos disponíveis que permitam atenuar o impacto das doenças mentais neste período, não só nas mulheres, mas também nas crianças e no seu desenvolvimento, nas suas famílias e na sociedade em geral.

Drª Tânia Casanova – Médica Psiquiatra

Drª Carla Alves Pereira – Médica Psiquiatra