Estás a pensar oferecer um telemóvel ao teu filho neste Natal?
PÁRA e lê isto primeiro.
Se és pai ou mãe, este artigo vai-te interessar.
Se és filho, talvez fiques zangado comigo. Mas tenho de o escrever, para tua segurança.
Querido Pai, querida Mãe, darias um cartão multibanco ao teu filho de 10 anos?
Porias um automóvel nas mãos do teu filho de 12 anos?
Deixarias o teu adolescente de 13 anos viajar sozinho até ao Japão, Estados Unidos, Singapura?
Porque não?
Mesmo sendo ele tão maduro, responsável e precoce em tantas coisas?
Simplesmente, porque não tem idade para isso. Não tem idade para gerir a complexidade que envolve a gestão de uma conta e de um cartão de multibanco, conduzir um automóvel e gerir os perigos que envolve a condução e viajar sozinho em mundos tão longínquos, onde se pode cruzar com tantas pessoas e estar sujeito a tantos riscos.
Provavelmente, substituirias estes seus pedidos por uma mesada em dinheiro real e numa quantidade que ele possa administrar, uma bicicleta/trotinete com capacete e uma viagem em família a algum destes lugares…
Independentemente do grau de maturidade que reconheças no teu filho, não o porias em nenhum destas situações, porque sabes que não está preparado para ela. E isto talvez não saibas, mas não está preparado para ela porque ainda não ocorreu a maturação cerebral do córtex préfrontal, essa região anterior do nosso cérebro, responsável por
– antecipação das consequências das nossas ações
– auto-controlo dos impulsos e das emoções (isto é, ter travão)
– tomada de decisões
– aprendizagem pelo erro
– planear a médio e longo prazo
– estabelecer prioridades
entre outras funções tão importantes.
Aos 10, 12, 13 anos, o teu filho está “descerebrado”. Ainda que seja muito responsável com as rotinas diárias e escolares, e ainda que te ajude muito em casa.
É por isso que existe uma idade legal para o uso de Redes Sociais e não há nenhuma abaixo dos 13 anos! Então, porque é que vou dar ao meu filho um dispositivo com ligação à Internet para a seguir lhe proibir de instalar qualquer Rede Social?
Verifica a idade aconselhada para cada uma das Redes Sociais antes de te decidires a abrir essa porta ao teu filho. Podes fazê-lo aqui: https://www.net-aware.org.uk/
E sabes para que idades estão recomendados os jogos que os teus filhos gostam de jogar? Se não sabes, informa-te, porque isso te evitará muitas discussões com eles. Em pegi.info podes verificar a classificação de todos os jogos e os riscos a eles associados.
A nossa arte, enquanto pais, não é proibir, é orientar. E para isso temos de estar informados.
E em relação ao telemóvel, estas não são razões válidas para lhe dares um telemóvel antes dos 13 anos:
– precisa de estar contactável (porque ele não te vai atender quando lhe ligares!)
– se precisar de alguma coisa pode ligar-me (como fazíamos nós quando tínhamos algum problema na escola?)
– todos os amigos têm um (talvez nem todos tenham, mas mesmo que tenham, vais ceder à pressão social e pôr o desenvolvimento do teu filho em risco?)
– algum familiar prometeu-lho dar neste Natal (avisa esse familiar que o reterás até ter maturidade para o poder ter, tal como farias se lhe oferecessem uma Scooter)
Os especialistas recomendam a idade mínima dos 13 anos para ter um telemóvel pessoal. E se chegou a hora de o dares ao teu filho, ainda assim, quando o ofereceres, não te esqueças de lhe juntar o contrato de uso do mesmo. Este momento deve incluir um diálogo positivo sobre vários aspetos:
– Precisar que o telemóvel não é do filho, é da família, e que neste momento, ele ficará a administrá-lo. De hoje para amanhã pode ficar para o irmão mais novo e receber outro.
– A administração do uso ficará sob a responsabilidade dos pais, até estes verificarem que o filho é capaz de gerir o seu uso de forma mais autónoma. Tal será feito “manualmente” ou usando as ferramentas de Controlo Parental.
– Há lugares em casa onde é proibido usar o telemóvel: WC, mesa de refeições, cama, sala de estudo, aulas, etc.
– Há momentos em que é proibido usar o telemóvel: uma hora antes de ir dormir, de noite, durante o tempo de estudo, nos passeios e convívios em família, nas refeições em família, etc.
– Não se instalam App, Redes Sociais ou jogos sem autorização dos pais e estes vão orientar o filho nas definições de segurança de cada um, para que o possa usar de forma segura.
– Há perigos que é preciso que os filhos conheçam e por isso os pais têm de abordá-los: a pornografia, o sexting, o contacto com desconhecidos, o cyberbullying, as compras online, entre outros. Deves ensinar o teu filho a bloquear conteúdo inapropriado e a referir-te sempre que contacte com ele.
Estou a exagerar?
Se o Steve Jobs não dá um iPad aos próprios filhos, vamos nós ser ingénuos e pôr as nossas crianças de 10, 12 ou 13 anos em contacto com os 3 biliões de pessoas que a cada segundo estão ligados à Internet?
E se estás a pensar que isto é demasiado trabalho a propósito do telemóvel, que requer tempo e disponibilidade, então talvez seja melhor escolheres outro presente para este Natal…
Um dia o teu filho vai-te agradecer. Poupaste-lhe muita irritabilidade, horas de sono, ansiedade, comparações frequentes, influências negativas, baixa auto-estima, bullying, discussões contigo e preservaste-lhe o cérebro para amadurecer ao ritmo que lhe é mais benéfico sem a hiperestimulação que um telemóvel permite.
Feliz Natal!
Drª Cátia Almeida – Médica Pedopsiquiatra
Unidade de Pediatria CSSMH
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