AVC – Reconhecer e Agir

Pode salvar uma vida

No dia 29 de Outubro celebra-se o Dia Mundial do AVC. Esta é ainda uma doença-flagelo e uma das principais causas de morte no nosso país. De facto, as doenças do aparelho circulatório, incluindo o AVC, são responsáveis por mais de um quarto dos óbitos em Portugal. Mais, estas são a principal carga de doença e a 5.ª carga de morbilidade e incapacidade da nossa população, com enormes custos económicos e sociais. No entanto, graças aos avanços verificados nos últimos anos em questões como a prevenção, o diagnóstico e o tratamento, todos os indicadores de morbi-mortalidade associados ao AVC têm vindo a descer, com uma diminuição de aproximadamente 20% só nos últimos 8 anos.

E os avanços na abordagem do AVC foram imensos: a criação das vias verdes do AVC e das unidades de AVC; a disponibilidade de imagem por TC, angio-TC e eco-doppler vascular; os meios de diagnóstico cardíaco complementares, como o ecocardiograma, o holter e os registadores de
eventos; os métodos de tratamento por fibrinólise endovenosa ou revascularização intraarterial; a reabilitação precoce e os novos anticoagulantes orais.
Mas, ainda assim, quando o AVC se instala, são fundamentais 2 coisas:


1. o socorro imediato por forma a permitir um tratamento que, quanto mais precoce for, mais tecido cerebral pode salvar e limitar as sequelas decorrentes do evento;

2. a investigação exaustiva da causa do evento vascular por forma a estabelecer a melhor terapêutica de prevenção da recorrência ou repetição do evento.

Para o sucesso do primeiro ponto é essencial a detecção precoce dos sinais sugestivos de AVC: alteração da fala, boca ao lado e/ou falta de força num dos lados do corpo (braço, perna ou ambos) e subsequente ativação dos meios de emergência (112).

No que diz respeito ao segundo ponto, temos meios de investigação complementar que permitem classificar a causa do AVC num de 4 itens:

    • hemorrágico (vulgo “derrame cerebral”);

 

  • isquémico (vulgo “trombose cerebral”) devido à oclusão das artérias cerebrais por aterosclerose (placas de gordura) ou dissecção (ruptura) das mesmas, a embolismo devido a fibrilhação auricular, ou de causa indeterminada.

 

Ora, não há efectivamente AVC sem causa. Sabe-se que muitos destes AVC “sem causa” poderão ser devidos a embolismo por crises de fibrilhação auricular paroxística. Esta arritmia cardíaca, por ser fugaz e geralmente assintomática, é de difícil detecção, não sendo raro ser o AVC a sua manifestação inicial. No entanto, temos hoje disponível já toda uma panóplia de meios complementares de diagnóstico em Cardiologia para a sua investigação. Com a introdução dos anticoagulantes orais directos, tão eficazes como, mas mais seguros que a “velhinha” Varfarina, temos agora meios muito mais eficazes de prevenir um segundo AVC em doentes com fibrilhação auricular, desde que detetada.

No entanto, apesar de todos os avanços técnicos e científicos, tecido cerebral perdido é tecido cerebral não recuperável, pelo que qualquer sequela de um evento cérebro-vascular poderá ser permanente. Subsequentemente, após um evento cerebrovascular, a reabilitação assume um papel fundamental.

Geralmente realizada em três vertentes – Fisioterapia, Terapia da fala e Terapia ocupacional – requer o doente vítima de AVC uma abordagem multidisciplinar, tanto precoce como intensiva, cujo objetivo será minimizar a incapacidade resultante, garantindo a melhor funcionalidade possível. Para este passo muito contribuem as unidades de reabilitação – como a Unidade de Convalescença da CSSMH – que, com uma equipa treinada e motivada para a abordagem do doente vítima de AVC, garantem os melhores cuidados de reabilitação, seja em regime intensivo / internamento, seja em regime ambulatorial.

Dr. Pedro Ribeiro - Medicina Interna

Dr. Pedro Ribeiro

Médico de Medicina Interna
Diretor Técnico UCCIC – CSSMH

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