Com os votos de um ano letivo cheio de… gargalhadas!

Temos mais um ano letivo em arranque. Como todos os recomeços, esta é uma fase de adaptação (de alunos, pais e comunidade escolar), de reorganização de rotinas, materiais e “mindset”… Depois das férias, em que independentemente do que fizemos, se quebraram as rotinas laborais e escolares, há que recuperar alguns ritmos e essencialmente “mudar o chip”, sintonizarmos com o tempo que estamos a viver.

Para algumas crianças, mais raro em adolescentes, esta fase é vivida com muita expectativa. Para alguns pais, é vivida com alívio (“Finalmente recomeça a escola, já não sabia o que fazer com eles em casa!…”) e um misto de receio e preocupação. “Como é que se vai adaptar?”, “O professor vai ser acolhedor?”, “Os colegas vão aceitá-lo bem?”… E depois a preocupação com os TPC, as matérias, a aprendizagem, as atividades extra que têm de ser escolhidas… E a roda viva recomeça, com todo o seu stress e falta de tempo. Talvez por isso, para a maioria das crianças e dos adolescentes o início do novo ano é marcado por um misto sentimento de ansiedade e desalento “Lá tenho que ir para a escola outra vez!…”

E para quem educa crianças com alguma doença, dificuldade de aprendizagem ou problema de desenvolvimento, os desafios acrescem…

Pois bem, com a chegada do Outono que a todos nos faz ficar mais nostálgicos e algo depressivos, quero dizer que, se há algo que a pandemia do COVID 19 nos ensinou, é que há coisas muito mais importantes que as notas, as metas curriculares e as explicações. No rescaldo desta fase trágica que vivemos, temos toda uma geração de crianças e adolescentes desorientados, ansiosos, desmotivados, com medos, com uma baixíssima tolerância à frustração, carentes de relações interpessoais e de bom humor, que nos enchem as consultas de saúde mental. E sabem porquê? Porque as gerações de adultos que cuidam deles estão exatamente assim.

E se fizéssemos todos um pacto de investirmos neste ano letivo em vida relacional e afetiva? Os alunos aprendem bem se estiverem felizes.

Mas não é importante a disciplina, a exigência e o trabalho?!

É, sim. Mas ainda mais importante é o sentido de pertença, o saber-se seguro e querido, o sentir-se escutado. Mais importante ainda é ter tempo para brincar e para rir.

Algum de vós se lembra da diferença entre um conglomerado e um arenito? Pois foi matéria do 7º ano a geologia. O que é que isso nos trouxe para a vida? Essa informação, em si mesmo, nada, porque já não nos lembramos dela. Mas talvez recordemos a professora que nos ensinou essa matéria e nos trouxe exemplos de rochas dos Açores para palparmos e os colegas divertidos com que fizemos o trabalho de grupo sobre o tema. Aprendemos a olhar para as rochas na natureza de outra forma, a trabalhar em equipa, aprendemos a pesquisar, aprendemos a fazer chaves dicotómicas e resumos de matéria. Aprendemos a ser curiosos. E em casa, armámo-nos em detetives e fomos para a mata à procura de rochas.

Caro leitor, só te posso desejar o melhor para este ano letivo e para os teus, desejo-te um ano cheio de brincadeiras e gargalhadas, sentido de humor e tempo para estares com os teus. É a melhor lição que lhes podes ensinar.

Dr.ª Cátia Almeida

Pedopsiquiatra | Coordenadora do Centro de Neurodesenvolvimento da CSSMH