Dia Mundial do Doente

Pela Saúde Mental e Emocional dos doentes e dos seus familiares.

Já há dois anos que lidamos com uma pandemia que assolou globalmente o mundo e, em particular, os mais vulneráveis. Hoje, neste Dia Mundial do Doente, falamos especificamente dos doentes internados, na Casa de Saúde São Mateus Hospital, neste período crítico e das suas limitações.

Inicialmente, uma das primeiras medidas tomadas foi suspender visitas e optar pelo recurso às novas tecnologias com o intuito de colmatar o apoio que era anteriormente proporcionado pelos familiares e amigos na recuperação dos utentes.  Numa fase inicial esta adaptação foi bem aceite e com boa compreensão da época que estávamos a viver, abrindo assim novos caminhos para manter o contacto com o exterior.  Todavia, desde cedo se começaram a perceber os efeitos nefastos na saúde mental dos mesmos: o toque, as palavras sussurradas ao ouvido, o sorriso. Subtilezas que antes apaziguavam a dor e motivavam para mais um dia de luta, deixaram de estar presentes. Esses cuidados passaram a ser dados por tantos e tantos profissionais de saúde que usaram da sua compaixão, empatia e tempo pessoal para tentar compensar estas falhas presenciais, oferecendo a estes o amor, o carinho e atenção que não poderiam receber presencialmente dos demais. Não obstante a este esforço prestado pelos profissionais, nada substitui o carinho familiar.

Nos últimos tempos o cansaço, a descrença, a frustração e a desesperança são mais notórios nos nossos doentes e fomo-nos apercebendo que esta compensação por parte das novas tecnologias e pelos nossos cuidados já não seriam suficientes, nem creditados como antes, porque as pessoas foram perdendo a fé que o mundo pudesse voltar à normalidade. Infelizmente, ainda não temos a resposta a isso. Começa a aparecer uma ténue luz ao fundo do túnel, mas será ela viável? Poderemos nós confiar nela? Quem sabe! O que sabemos é que ultimamente somos chamados a ser mais humanos, mais cuidadores e mais atentos à saúde mental. Procuramos detetar precocemente qualquer sinal ou sintoma de forma a mitigar ou diminuir a sua interferência no processo de recuperação.

Entre as formas mais eficazes está a interação, quando possível, entre as pessoas internadas. Esta é benéfica e auxilia no sentimento de pertença, na partilha de experiências e previne o isolamento. Esta interação surge também nas tipologias da equipa multidisciplinar como, por exemplo, nas refeições, na animação e nas terapias. A família pode ainda ser chamada a desempenhar um papel ativo em conjunto com os profissionais de saúde de forma a promover uma boa integração, auxiliando assim no processo de manutenção da motivação para a recuperação.

 Sabemos que existem casos que requerem maiores cuidados, quer pela sua complexidade quer pelas necessidades individuais do doente. Sem descurar a integração do doente na instituição e nas suas atividades, o acompanhamento individualizado de cada utente é reforçado quando as condições assim o exigem, recorrendo à abordagem em privado e com medidas diferenciadas que nos permitem atingir o objetivo final: ter um doente confortável ao nível físico e emocional, pronto a superar os desafios com que se depara. Ao conquistar a plenitude da sua recuperação, há uma envolvência com esta casa tornando-a um marco inesquecível no percurso de vida de todos os nossos doentes.

Drª Sara Moitinho

Psícologa Clínica (CP 158959)