Mitos e Verdades sobre a Gaguez

Sabia que…

– mais de 68 milhões de pessoas no mundo têm gaguez, o que corresponde a 1% da população mundial?

– em Portugal estima-se que cerca de 100 mil pessoas têm esta perturbação?

– a gaguez é mais comum nos homens do que nas mulheres (4 homens para 1 mulher)?

– 60% dos gagos tem um familiar com gaguez?

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a gaguez é uma alteração da comunicação verbal, que afeta o ritmo de fala do indivíduo, caraterizada por um discurso com prolongamentos, bloqueios, palavras partidas e repetições que tanto podem ser de sons ou de sílabas de uma palavra e/ou monossílabos. A gaguez é importante pela sua frequência e porque se pode associar a uma redução da autoestima, isolamento social, ansiedade e, no caso das crianças, ser um fator de segregação pelos pares.

Aproximadamente 5% de todas as crianças passam por um período em que o seu discurso pode apresentar repetições, pausas, bloqueios e prolongamentos. Trata-se de um quadro normativo, denominado disfluência infantil. Sucede durante cerca de três a seis meses e em 75% dos casos recuperam espontaneamente. Se tal não acontecer ou se surgirem outros comportamentos associados, é necessário consultar um pediatra e/ou terapeuta da fala.

São vários os mitos que se associam à gaguez. Por isso, neste Dia Internacional da Gaguez vamos esclarecer as dúvidas.

– Pessoas que gaguejam são menos inteligentes?

Mito. A inteligência nada tem a ver com a fluência e ritmo de fala. Por isso, é errado associar a gaguez a um QI inferior.

– A criança, o jovem ou o adulto, se quiser e se se esforçar, pode falar sem disfluências?

Mito. A gaguez não se trata de um comportamento voluntário que a pessoa consiga controlar, portanto, mesmo que a pessoa queira não vai conseguir evitar a gaguez.

– A gaguez, tal como apareceu sozinha, desaparece sozinha?

Mito. A gaguez não desaparece sozinha e a eficácia da intervenção, por parte de um terapeuta da fala, é menor se a gaguez persistir por mais de um ano, na adolescência ou no adulto.

– Pessoas que gaguejam são nervosas, tímidas, inseguras e/ou stressadas?

Mito. As caraterísticas de personalidade nada têm a ver com a gaguez, apesar de esta patologia da fala poder influenciar a autoimagem, bem como a relação com os outros.

– Um susto pode ser a causa da gaguez?

Mito. Não há qualquer evidência científica sobre a causa de gaguez ser um susto. Sabe-se que a etiologia pode ser hereditária, neurológica ou psicossocial.

– A pessoa tem gaguez porque tem uma língua muito curta?

Mito. Não há qualquer relação entre as estruturas e funções do aparelho fonador e a causa da gaguez.

– Se a criança tem manifestações de gaguez, devemos pedir-lhe para ter calma ao falar?

Mito. Não devemos falar sobre “gaguez” se a criança não tiver a perceção que gagueja porque poderá agravar o problema e piorar o prognóstico.

Quer estejamos perante uma gaguez transitória (disfluência infantil) ou crónica é muito importante que todas as pessoas que convivam com as crianças e/ou adultos com gaguez entendam que uma atitude positiva origina mudanças durante o processo comunicativo. Tenha assim em consideração as seguintes estratégias:

– Não diga à pessoa para “falar mais devagar”, respirar ou para “ter calma”;

– Não termine as palavras nem fale pela pessoa;

– Espere a sua vez para falar e ouça o outro;

– Fale com a pessoa com calma, fazendo pausas frequentes;

– Mostre que está atento ao conteúdo da mensagem e não à forma como é dita;

– Não faça da gaguez algo de que se deva ter vergonha. Fale da gaguez tal como fala sobre qualquer outro assunto.

Nesta ou noutras situações, se assim o entender, procure a ajuda de um Terapeuta da Fala. Pode fazer a diferença na sua vida.

Dr.ª Ana Francisca Ferreira

Terapeuta da Fala